segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

As Quatro Virtudes Cardeais

Em “A República” Platão imagina um Estado ideal, sustentado no conceito de justiça, onde o filósofo expõe suas idéias políticas, filosóficas, estéticas e jurídicas. É nesta obra que encontramos a enumeração das quatro virtudes fundamentais: prudência, temperança, coragem e justiça. Esta enumeração é considerada como a mais antiga, embora, segundo o editor a doutrina em si possa ser pitagórica. Mais tarde, essas virtudes passaram a ser chamadas por Santo Ambrósio de virtudes cardeais.

“A classificação obedece a um princípio, em que a cada parte da alma corresponde uma virtude principal. Portanto, uma para a razão, outra para a vontade, outra para o impulso sensível, finalmente ainda uma outra para o controle das partes entre si.
A temperança ou sensatez, também chamada autodomínio, medida, moderação, é a virtude da vida impulsiva, instintiva, ou sensível, refreando os prazeres corporais.
A prudência, denominada também sabedoria, é a virtude da parte racional.
A coragem, dita também valentia, é a virtude do entusiasmo (thymoiedés), ou seja, dos impulsos volitivos e afetos, regrando o coração.
Uma quarta virtude, a da justiça, resulta da colaboração equitativa de todas as virtudes, garantindo o funcionamento harmonioso das partes da alma, ou seja, de suas faculdades.” (O Divino Platão)

Ainda, segundo a doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana essas virtudes:
“são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade humanas, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam a nossa conduta segundo a razão e a fé. Adquiridas e reforçadas por atos moralmente bons e repetidos, são purificadas e elevadas pela graça divina.” (CCIC – Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, nº 378).

A partir da leitura de “A República”, inicialmente a intenção deste texto era trazer referências bíblicas que tratem das mesmas virtudes enumeradas por Platão para a busca do bem, da justiça e da verdade; mas, mais que isto que os textos trazidos fossem de cartas do Apóstolo São Paulo.

Porém, numa única orientação do Apóstolo São Pedro - discípulo conhecido pela falta de temperança, para não dizer de temperamento sanguíneo, de vários exemplos que não cabem agora, mas que cuja renovação da mente pode ser observada no livro dos Atos dos Apóstolos e a quem outrora fora dito: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”1; e: “Apascenta as minhas ovelhas.”2 – podemos encontrar as quatro virtudes que devem ser observadas por todos, e essencialmente pelos cristãos, na busca e no proceder do bem e da justiça. Vejamos:

“Quem há de maltratá-lo, se você for zeloso na prática do bem?
Todavia, mesmo que você venha a sofrer porque pratica a justiça, você será feliz.
Seja corajoso! Esteja sempre preparado para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em você.
Contudo, faça isso com educação e respeito, conservando boa consciência, de forma que os que falam maldosamente - contra o seu bom procedimento como seguidor de Cristo - fiquem envergonhados de seus insultos.
É melhor sofrer por fazer o bem, se for da vontade de Deus, do que por fazer o mal.”3

Assim, como orienta o Apóstolo São Pedro, não nos alegremos com a injustiça, mas sim com a verdade.


Azor Nogueira Bruder

________________________________
1 Evangelho de São Mateus, cap. 16, vers. 18, 1ª parte. Versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Ed. 1994;
2 Evangelho de São João, cap. 21, vers. 17, parte final. Versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Ed. 1994;
3 1ª Carta de São Pedro, cap. 3, vers. 13-17, na Nova Versão Internacional (NVI), com adaptações.

________________________________
Referências:
- Catecismo da Igreja Católica – Compêndio in:
http://www.vatican.va/archive/compendium_ccc/documents/archive_2005_compendium-ccc_po.html 
- Enciclopedia Simpozio (Versão em Português do original em Esperanto), O Divino Platão – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas:

http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Megahist-filos/D-PLATAO/6316y226.html 

- Platão, A República, Ed. Martin Claret, 200, 6ª reimpressão - 2009